Nasa quer enviar submarino para explorar mar de óleo em lua de Saturno
A façanha de pousar uma sonda em um cometa foi sem dúvida uma das mais corajosas conquistas espaciais recentes. No entanto, a NASA, agência espacial americana, está estudando uma missão que poderia superar essa conquista.
Os cientistas estão propondo o envio de um submarino robótico para explorar os mares de hidrocarbonetos líquidos em Titã, uma lua de Saturno. Essa missão é particularmente desafiadora, pois a temperatura média na lua é de -180 ºC, e esses mares não são compostos de água, mas sim de metano e etano. Esta expedição promete ser uma das missões mais emocionantes da exploração espacial futura.

Financiado por uma iniciativa da NASA chamada NIAC – Conceitos Inovadores e Avançados -, o projeto desafiador busca incentivar os cientistas a pensar de forma inovadora e revolucionária. “É incrivelmente libertador. Você pode dar asas à sua imaginação”, diz entusiasmado Ralph Lorenz, o cientista responsável pelo plano. Durante a Conferência de Ciência Lunar e Planetária realizada no Texas, EUA, Lorenz explicou sua visão para a missão e demonstrou confiança nos recursos, tempo e tecnologia disponíveis para torná-la viável.
Embora submarinos não tripulados, conhecidos como UUVs, sejam comuns para propósitos militares, buscas e explorações petrolíferas e científicas, esta missão seria única. No entanto, Lorenz acredita que as tecnologias existentes podem ser adaptadas e aprimoradas para realizar o projeto com sucesso.
Um dos aspectos mais impressionantes dessa ousada proposta é a ideia de transportar o submarino para Titã usando uma versão da nave espacial militar americana X-37B. O submarino seria acomodado na área de carga da nave não tripulada e ambos seriam lançados ao espaço através de um foguete.
Uma vez em Titã, a nave espacial enfrentaria o desafio de adentrar na densa atmosfera pastosa da lua. Ainda assim, os cientistas estão confiantes de que a missão pode ser bem-sucedida, e estão trabalhando arduamente para torná-la uma realidade. Seria um passo gigantesco para a exploração espacial e a busca por novas formas de vida no universo.
Frio intenso
Há duas possibilidades de levar o submarino até o mar de Titã. Na primeira delas, o X-37B abriria as portas de sua área de carga ainda em voo, liberando o submarino robô que abriria um paraquedas para pousar na superfície do mar. Esse método já foi usado pelos Estados Unidos para lançar a bomba não nuclear de maior capacidade explosiva já criada.
A outra alternativa seria a nave pousar na superfície do mar e, em seguida, abrir seu compartimento de carga, liberando o submarino antes de afundar. Titã é um alvo atrativo para a exploração espacial por se assemelhar à Terra em uma versão congelada. A lua já foi visitada pela sonda Huygens em 2005, e a missão Titan Mare Explorer (TiME) foi proposta para coletar dados através de uma sonda flutuante no mar, mas não foi selecionada pela NASA.
A nova proposta de missão para Titã combina os objetivos científicos da TiME com outros que se tornariam possíveis graças ao uso do submarino. Segundo Ralph Lorenz, a missão permitiria realizar medições da superfície e ondas no litoral, além de possibilitar um mapeamento detalhado do fundo do mar, que guarda um registro rico da história do clima da lua. Com esses avanços, a missão é vista como um marco na exploração do universo e um passo importante na busca por vida fora da Terra.

Medições
As costas de Titã, lua de Saturno, guardam um segredo fascinante. Sedimentos deixados por hidrocarbonetos líquidos evaporados sugerem que o nível dos mares na lua subiram e desceram periodicamente. Apesar de concentrados no norte, os mares de Titã podem se mover entre os polos a cada 30 mil anos, graças a ciclos naturais determinados pelas propriedades orbitais da lua.
Explorar o fundo do mar de Titã com um submarino poderia revelar ainda mais segredos, como a possível existência de uma gigantesca cratera formada por impacto de asteroide. Os cientistas também estão curiosos para descobrir se os mares são formados por camadas com diferentes composições de óleo.
Embora o estudo NIAC, que custou US$ 100 mil, não tenha especificado quais instrumentos serão usados pelo submarino, um sonar, uma câmera e um sistema para coletar amostras são candidatos óbvios. No entanto, o uso do submarino pode trazer desafios, como a cavitação, que pode atrapalhar a leitura de dados pelos equipamentos. Soluções incluem melhorar o design do submarino ou apenas usar o sonar quando o veículo estiver parado.

Comunicação
As comunicações serão cruciais na missão submarina em Titã. Para transmitir dados diretamente para a Terra, o polo norte da lua deve estar apontado na direção certa. Mas essa posição só será alcançada novamente em 2040, o que pode atrasar a missão.
Uma possível solução seria ter uma espaçonave orbitando Titã para receber os dados do submarino e transmiti-los à Terra, embora isso aumente os custos.
Além disso, a energia é outra preocupação crucial. As missões além do cinturão de asteroides estão muito longe para serem alimentadas por energia solar, então combustível nuclear à base de plutônio é necessário.
No entanto, a perspectiva de explorar a maior lua de Saturno é tão fascinante que o retorno a ela é inevitável.