As sondas Voyager da NASA estão sendo desligadas
As Voyager 1 e Voyager 2, hoje os objetos mais distantes já enviados pela humanidade ao espaço, estão prestes a iniciar o processo de desligamento gradual. Segundo informações da revista Scientific American, a NASA está desativando instrumentos em ambas as sondas para conservar o restante de sua energia.
Lançadas em 1977 com poucos dias de diferença, as Voyager tiveram uma história marcada por planejamento e também por adaptações improvisadas. Com quase cinco décadas de serviço contínuo e algumas das imagens mais impressionantes do espaço profundo, as sondas agora estão perto de exaurir suas reservas de energia. A decisão de desligar alguns equipamentos é uma tentativa de prolongar sua vida útil até 2030, mesmo que isso signifique abrir mão de certos registros científicos.
Essa oportunidade única teve início em 1965, quando Gary Flandro, um engenheiro da NASA, calculou com precisão que, entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno estariam alinhados “como um colar de pérolas”, na descrição da revista. Esse alinhamento raro permitiu que uma nave lançada pelos EUA aproveitasse a influência gravitacional dos quatro planetas para ganhar impulso e ultrapassar distâncias nunca antes alcançadas – algo crucial, visto que a União Soviética havia lançado o Sputnik-1 anos antes e liderava a corrida espacial.
No entanto, havia um prazo apertado para aproveitar essa chance: esse alinhamento só ocorre a cada 176 anos, o que exigia que uma nave fosse lançada até a metade dos anos 1970. Em resposta, os EUA aceleraram o cronograma e lançaram duas espaçonaves, Voyager 1 e Voyager 2, praticamente idênticas, com poucos dias de diferença entre si.
As duas sondas foram projetadas para explorar Júpiter e Saturno e cumpriram essa missão com sucesso. Hoje, 45 anos após o início de suas operações – muito além dos quatro anos previstos inicialmente – ambas seguem funcionando. Como destaca Ralph McNutt, físico da Universidade Johns Hopkins, “já ultrapassamos em dez vezes o prazo de garantia dessas sondas”.
As Voyager operam por meio de plutônio radioativo, gerando uma média de quatro watts (4W) de energia por ano. Com o tempo, a diminuição gradual dessa fonte de energia tornou necessário o desligamento de alguns instrumentos para conservar recursos.
Mesmo após a conclusão de sua missão original, as Voyager seguiram adiante no espaço. Em 1990, a Voyager 1 capturou a famosa imagem “Pálido Ponto Azul” da Terra, a cerca de 6 bilhões de quilômetros de distância. Em 2012 e 2018, respectivamente, as duas sondas atravessaram o limite do sistema solar, entrando no chamado “espaço interestelar” – uma marca ainda inédita para qualquer outra missão espacial.
Estima-se que, por volta de 2030, ambas as sondas não terão mais energia para se comunicar com a Terra. Entretanto, elas continuarão viajando com uma missão adicional: cada uma leva um disco dourado contendo imagens, saudações em 55 idiomas, 90 minutos de músicas e diversos sons da Terra, como o som do vento, da chuva e dos batimentos cardíacos humanos.
Tendo chegado a distâncias improváveis de serem alcançadas novamente tão cedo, as Voyager 1 e 2 carregam, quem sabe, a esperança de um contato futuro com formas de vida extraterrestre.
Para quem se interessar, a NASA disponibiliza uma página com atualizações em tempo real sobre o progresso das sondas.