Plutão pode ter oceanos líquidos
Pelo visto, o nosso Sistema Solar guarda mais mistérios do que imaginávamos. Prova disso é uma recente simulação que revelou fatos interessantes sobre Plutão. Aparentemente, nos confins mais gelados do planeta anão, possa haver oceanos líquidos sob uma camada de gelo de nitrogênio.
Até então acreditava-se que a temperatura necessária para haver um oceano líquido em Plutão deveria ser muito alta. Assim, seria impossível que o gelo espesso permanecesse intacto sem derreter. Mas recentemente, astrônomos japoneses descobriram uma nova possibilidade. Segundo eles, há uma camada de gás sob o gelo e acima do líquido, que isolaria os dois. Assim, seria possível que os dois coexistissem.
Caso essa descoberta se prove verdadeira, isso poderia ajudar a resolver a anomalia gravitacional identificada pela sonda New Horizons, na forma da Sputnik Planitia (uma bacia coberta de gelo de alto albedo em Plutão).
Anteriormente, a sonda New Horizons já havia sugerido a possibilidade de um oceano líquido abaixo da camada de gelo. A existência de oceanos líquidos sob Sputnik Planitia poderia ainda explicar as características tectônicas do planeta. Mas, considerando a idade e localização de Plutão, os cientistas esperavam que todo o líquido estivesse congelado.
“Para manter um oceano, Plutão precisa reter calor no interior. Por outro lado, para manter grandes variações em sua espessura, a camada de gelo de Plutão precisa estar fria”, explicam os pesquisadores em seu artigo.
A equipe de pesquisadores ainda levantou a hipótese de que uma camada de hidrato de gás seria a responsável por esse fenômeno. “Aqui nós mostramos que a presença de uma fina camada de hidratos de clatrato (hidratos gasosos) na base da camada de gelo pode explicar tanto a sobrevivência a longo prazo do oceano quanto à manutenção dos contrastes da espessura da casca”, escreveram eles.
No entanto, não podemos ir até Plutão observar isso na prática. Então os pesquisadores tiveram que ancorar seus resultados em simulações de computador.
Oceanos líquidos
Os pesquisadores começaram a simular a evolução de Plutão, desde 4,6 bilhões de anos atrás. Eles simularam duas possibilidades. A primeira com uma camada de hidrato de gás entre a camada de gelo que cobre a Planitia e o oceano abaixo, e a outra com a ausência dessa camada.
A partir disso, eles modelaram a evolução térmica do planeta. E fizeram estimativas de quanto tempo levaria para os oceanos congelarem e formarem uma camada de gelo espessa. Eles concluíram que, sem essa camada de hidrato de gás, o oceano teria congelado totalmente há 800 milhões de anos.
Em contrapartida, na simulação que incluiu o hidrato de gás, mostrou-se que, quando isolado por uma camada de gás, o oceano quase nem congela. “Os hidratos de clatrato agem como um isolante térmico, evitando que o oceano congele completamente, mantendo a casca de gelo fria e imóvel”, escreveram os pesquisadores.
Essa simulação não apoia somente as observações feitas previamente pela sonda New Horizons sobre a possibilidade de um oceano líquido em Plutão. Ela também reforça que os oceanos líquidos possam existir também nos planetas e planícies mais gelados do Sistema Solar.